As dimensões humanas das mudanças ambientais: percepção ambiental e estratégias de adaptação em Ilha Comprida - SP
Keywords:
Mudanças ambientais e climáticas, Percepção ambiental, Erosão - Ilha Comprida, SP, Adaptação.Abstract
Neste artigo, os autores discutem as relações entre a dinâmica populacional, a percepção ambiental e as mudanças ambientais em Ilha Comprida, município do Litoral Sul de São Paulo. O estudo de caso de Ilha Comprida mostrou que há um processo de erosão acelerada ocorrendo na extremidade norte, o qual ameaça construções e a população residente nessa área. Os principais objetivos da investigação realizada foram conhecer e analisar como são percebidos os perigos ambientais e quais ações são realizadas pela população (residente e de veraneio) e pelo governo local para enfrentar o problema a erosão na Ponta Norte. A metodologia aplicada incluiu primeiramente uma pesquisa bibliográfica sistemática sobre a área de estudo e sobre estudos geológicos e físicos para a compreensão da dinâmica costeira na região pesquisada; análise dos dados censitários para entendimento das características sociodemográficas da população em situação de risco ambiental e por fim, entrevista qualitativa realizada com diferentes atores sociais, como moradores, veranistas, gestores e especialistas. Os resultados indicaram que a percepção ambiental passa por certa diferenciação entre residentes e não residentes, entre alguns componentes da dinâmica demográfica, como sexo, idade e tempo de residência e, esses elementos do perfil demográfico, permitem justificar a questão da resistência da população local em aceitar a realocação como forma de adaptação às mudanças ambientais em Ilha Comprida. A forma como a população percebe e enfrenta os perigos ambientais está relacionada ao envolvimento das pessoas com o lugar, que repercute em suas ações de enfrentamento para lidar com os perigos ambientais do município. Os moradores e veranistas permanecem no local e lançam mão de estratégias individuais ou familiares para enfrentar a erosão costeira. Há resistência da população da Ponta Norte em mudar-se de balneário mesmo quando suas casas foram atingidas pela erosão ou estão na iminência de serem afetadas. Os resultados indicaram ainda que há a necessidade de promover ações de adaptação ao problema da erosão costeira, pois as autoridades governamentais não têm planos de gerenciamento em vigor para lidar com os perigos ambientais atuais e futuros deste ambiente estuarino-lagunar.References
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